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O Fadista

sexta-feira, novembro 04, 2005

Otávio regressava a casa após mais um dia de trabalho.
O mesmo caminho de todos os dias percorrido lentamente no meio do trânsito da cidade. "Que maçada, toca a andar que eu quero ir jantar" - dizia sozinho.
Na rádio as mesmas notícias do costume.
De repente algo deixou de fazer sentido. O veículo que seguia à sua frente e com cuja marcha lenta tinha acabado de reclamar deixou de ser apenas mais um carro. Era um camião do lixo. "Às oito da noite?" - pensou Otávio. Primeiro, pensou que seria apenas mais uma ridícula ineficiência dos serviços camarários, mas depois tornou-se ainda mais esquisito. O camião do lixo circulava lentamente à sua frente, bloqueando a passagem, sem motivo aparente. Passados uns metros de marcha lenta o camião parou. Mais uns segundos passaram e uma senhora de cabelo impecavelmente penteado saiu do camião pelo lado do passageiro, falando ao telemóvel. Vestida com a farda dos agora politicamente correctos Técnicos de Higiene Urbana, a senhora com ar de Tia desligou o telefone e de forma desajeitada calçou as luvas. Dirigiu-se a um dos quatro caixotes de lixo que estavam no passeio. Ao caixote que tinha uma marca vermelha. Arrastou-o até à parte traseira do camião e colocou-o no suporte. O caixote foi então içado e sacudido pelo baloiço. A carga foi despejada para dentro das mandíbulas rotativas do monstro do lixo. A senhora voltou para dentro do camião. O camião arrancou ignorando os restantes caixotes da rua. Otávio pensou "É perfeito. Isto é que é limpeza".


Posted by rms |


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