+
O Fadista

segunda-feira, outubro 31, 2005

Quando Paloma abriu os olhos, sentiu que tinha morrido.
As dores na cara eram aterradoras. Já tinha visto muitos documentários, o médico já lhe tinha dito que isso seria normal, mas o facto é que a cirurgia lhe tinha retalhado o rosto de forma brutal.
E não era só o rosto. O procedimento cirúrgico tinha incluído escultura facial, rinoplastia, injecções de colagénio, implantes dentários, lipo-aspiração, lipo-escultura, remoção de costelas e implantes mamários. Já que tinha que ser, porque não? Porque não aproveitar a necessidade de mudar com o desejo de mudar? Parecia-lhe uma miragem o dia em que decidiram que Paloma não podia continuar como estava. Que tinha que desaparecer. Que tinha que mudar. "Já não é uma opção, temos que tratar deste teu problema" - tinham-lhe dito. E trataram. O médico, o melhor, a discrição, absoluta.
Agora já não havia retorno. Estava feito. O rosto que conhecia, do espelho e das fotografias de menina estava perdido para sempre. Para a eternidade. "Mantenha-me os olhos Dr." - foi o seu único pedido para a cara. Nunca esquecera as frequentes palavras bondosas de sua mãe "Tens os olhos de uma princesa", "o Mar dos teus olhos é o mais azul de todos". Aquelas coisas que o amor de mãe costuma dizer. Mas que para Paloma tinham ficado. "Com alguma coisa minha vou ficar" - foi o que pensou antes de adormecer anestesiada.


Posted by rms |


« Home | Norberto acelerou o passo de forma a que o autocar... » //-->





Add a comment:

Name
Website   Html allowed : <a>, <b>, <i>

 


 © O Fadista 2005 - Powered by Blogger